terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Vertigem

Outro ciclo está completo
Outra volta desvairada
Esta, mais acelerada
Do meu lar levou o teto

E levou-me a consciência
Me deixou entorpecido
Entro no desconhecido
Sem um credo e sem ciência

O tornado destes anos
Desmorona minha vida
Eu não vejo mais saída
Destes ventos desumanos

Rodopio sem vontade
Encharcado até os ossos
Por meus medos e destroços
Pois o tempo é tempestade

sábado, 28 de dezembro de 2013

Espetáculo

Assisto estático
Este espetáculo fantástico
Que é a vida
Insisto em existir
Como se isso fosse fácil

Saltando decidido
Do alto desta montanha
Sem sentido que é a vida
Mas não sei voar
Grave gravidade

Mergulhando resoluto
Neste vasto oceano
De luto que é a vida
Mas não sei nadar
Profana profundidade

Acalentando delicado
Este lindo sonho
Enamorado que é a vida
Mas não sei amar
Saudável saudade

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Perdido

Caminhando a esmo
Pelas vielas vazias
De minha cidade natal
Indago qual é mesmo
No labirinto dos dias
A trajetória ideal

Flutuando ao acaso
Pelas águas revoltas
De minha rede fluvial
Submergi no descaso
Do rodamoinho sem volta
Deste rio que é de sal

Pairando ao relento
Pela cidade deserta
De meu imenso areal
Todas verdades que invento
Vejo sumir na incerta
Desesperança total

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal

A árvore mais importante
É a árvore da vida
Da qual, não obstante
Somos simples ornamentos
Em sua galhada garrida

Brilhamos assim, mais ou menos
Conforme nossa atitude
O que falamos ou fazemos
E até nossos pensamentos
Contam, em sua plenitude

O laço mais bonito e forte
É o laço de união
Que suplanta o medo, a morte
E o maior dos acontecimentos
É o presente do perdão

sábado, 21 de dezembro de 2013

Desconstrução

É na luta diária com esta sina
Na batalha desumana com o desdém
No discurso inflamado pra ninguém
Que minha língua afiada desafina

Atraída pela morte como um imã
Figurando nestes versos de porém
Em poesias que não valem um vintém
Que minha rima afinada desanima

Quando a luz que ofusca é a mesma que ilumina
E de noite a escuridão dá um passo e vai além
É em nome do pai, filho, espírito santo, amém
Que minha alma animada desatina

É firmemente agarrada a um fio de filosofia
Sem desculpas, ilusões, religiões e sem
Quase nenhuma alegria verdadeira também
Que minha mente atinada desafia

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Humano

Sou uma pessoa calada que fala demais
Sujeito triste que vive sorrindo
Amo aquilo que o feio tem de lindo
Com a rude sutileza dos instintos animais

Sou tudo aquilo que penso e muito mais
E pensando assim vou me iludindo
Esqueço que sofro, esqueço que findo
Satisfazendo necessidades carnais

Às vezes penso um pouco na vida
Na origem de tudo, ser ou não ser
Às vezes só quero esquecer

Quero encontrar a felicidade escondida
Nas sombras da noite, no amanhecer
Ou nas dobras de um passado qualquer

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Medo

Ao amigo Paulo Mielmiczuc
Obrigado pelo livro do Augusto de Campos

HANO    QUEE     ISSO      ARRE
MEDO    MEDO    MEDO    MEDO
ALGO     NHOE    PAEE      DELI
INCO      QUES     MUDE    BERD
MODO    EACO    CEEM     ADEE
QUED     MODA   MIMQ     STAA
EIXA      PELA      UASE     SAFE   
MUDO    VIDA     TUDO     RIDA 

MEDO    MEDI     MEDO     MEDE
MINA     FERE     ENDO      FINE



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Aniversário

   A N I V E R S Á R I O.
 A N N I V E R S A R Y.
    A N Y  V E R S E
        S E R V E.
                    V E R   S E
    H Á  N O  V E R S O,
             U N I V E R S O.
               S E R V O, R I O
                  AO   V E R  S Ó 
                      O   V E R S O
                      A D V E R S O
       Q U E    S O R V E       O
    A N O   A O   I N V E R S O.






quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Feliz ano novo

Para mim, janeiro
Sempre teve cheiro de mar
Sempre esteve cheio de amor
Era como uma flor
Que brotava de uma fresta
Da dura rocha funesta
Do contínuo temporal

A chuva quente lavava
Um doce gosto de sal
Achava fundamental
A chave que destrancava
O ano inteiro
Janela escancarada
Avistando fevereiro

Numa tarde ensolarada
Estava compactada
Incandescente num sorriso
Residente numa brisa
O que o homem mais precisa
A mais pura felicidade

A intensidade desta luz
Abria para além de março
E aquém de um maio esparso
O punho outrora em riste
Pelo orgulho que insiste
Em nublar meu rosto de agosto

Se bem me lembro
É em qualquer outro outubro
Ou meados de novembro que descubro
Que sou feito de dezembro

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Às cegas

Tateando emoções obtusas
Em meio a dores e crenças arraigadas
No braile insano das horas desesperadas
Leio um livro de histórias inconclusas

Vacilando entre os olhos petrificantes das medusas
E o abismo infinito que leva ao nada
Sigo no completo breu esta jornada
Cheia de becos sem saída e rotas confusas

Sinto-me trombando nas paredes
Do pequeno quarto escuro de minha mente
Sem perceber a janela destrancada bem à frente
Não vendo o que , de fora, tão facilmente vedes

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ectoplasma

Faça meia volta
Reflita o penar
Refrate o saber
Não fuja da dor
De se conhecer

De braços abertos
Se atraque com o espelho
Se tranque na torre
Pois o que não morre
Ficará mais velho

Pra quem não se aceita
Chora, grita e pasma
Ser desabrigado
De seu próprio ser
Te faz um fantasma

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Oculto

Subconsciente
Dsconhecido que me habita
Útil inimigo
Que me engana e me sabota

Inutilmente
Tento escapar da armadilha
Que trago comigo
Que nos meus atos se espelha

Infelizmente
Sei que sou seu escravo
Porque nem consigo
Evitar-te quando escrevo

domingo, 8 de dezembro de 2013

Estrondo

Minha obra que ecoa
Tem sombra de sobra
Tem um monstro que mostra
O veneno que escoa
De minha pessoa
É uma trompa que troa
E afronta-me a toa
Num estrondo que prostra
Minha obra que explora
Tem um jeito que implora
Por um verso que expõe
Um medo que impõe
Que o poema acabe agora

sábado, 7 de dezembro de 2013

Enredo

Despido do medo
A despeito da dor
Desvendo um enredo
Desafiador

Que é pleno de lutas
Desde bem cedo
E nessas disputas
Vou amadurecendo

Buscando sentido
Vitórias computa
Quando este é vertido
Do suor da labuta

Não importa aonde for
Nem que seja sofrido
Chegarei bem melhor
Do que quando hei partido

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Decifrar-te

Com olhos que escondem o amanhã
A leveza do ser ela finge
Ostentando a loucura mais sã
Me toma em teus braços
Esfinge

Com mãos que acariciam e ferem
Os meus movimentos restringe
E antes que todos esperem
Me beije na boca
Esfinge

Com rosto de quem desafia
Todas as leis ela infringe
E quando chegar o meu dia
Mastiga minha alma
Esfinge

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Metal

Apesar de todo cansaço
Apesar de tristes ideias
Corre fundida em minhas veias
Uma vontade de aço

E mesmo se hesito ou se erro
Residente em tudo que faço
Moldada em meus ossos do braço
A persistência é de ferro

Por mais que pareça estranho
Na lama irreal onde emperro
Mais à liberdade me aferro
Com correntes feitas de estanho

Forjei um pacto duradouro
Não importa se perco ou ganho
De fato nem sequer arranho
Minha paz que é banhada a ouro

Meu frágil exterior encobre
A poderosa liga inata
Que por dentro é feita de prata
Bronze, platina, chumbo e cobre

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Amor

Você vai me decepcionar
Um dia no futuro talvez
É provável que alguma vez
Eu assista você fracassar

E pode até ser cruel comigo
Num momento de pouca razão
Pode crer que terá meu perdão
E pra sempre serei seu amigo

É que mesmo te amando demais
Sei que é uma simples pessoa
Vejo que é linda, vejo que é boa
E deve estar nos padrões normais

É injusto esperar perfeição
Meu amor não te faz divindade
Eu aceito em você a verdade
Fico ao seu lado sem restrição

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Escafandro

No meu verso errado
Ora dou o recado
Ora desconverso
Findou-se o recato
Do poeta pacato
Escritor ao inverso
Afundou no recanto
Mergulhou no regato
Meu pequeno universo
Respiro aliviado
No mar encapelado
Em meio ao palavreado
Significante, significado
Totalmente submerso

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cicatriz

Nosso caso é coisa oca
Nossa casa causa um eco
Nossa causa é coisa pouca
Perdoe-me, sei que peco

Mas quero cantar, catártico
O ocaso do nosso consentimento
Constatar o colapso fantástico
Do nosso casamento

Pois cutucar a casca da ferida
Cai bem melhor que calar a voz
Se isso acaso curar nossa vida
Será a última chance para nós

domingo, 1 de dezembro de 2013

Palíndromo temporal

Ao amigo Paulo Mielmiczuc
Obrigado pelo incentivo



                        R
                      E  E
                    V       V
                  I             I
                V               V
                                    E
                                      R

sábado, 23 de novembro de 2013

Carpe diem

Chega de filosofia
De profundas reflexões
Quero aproveitar o dia
Dar um tempo pra razão
E viver minhas emoções

Ontem quando eu ria
Ria cheio de exceções
E pra tudo que eu fazia
Sempre de antemão
Tinham elucubrações

Hoje minha moradia
É o seio das canções
Caminho pela melodia
Totalmente na contramão
Fazendo improvisações

Amanhã, quem diria!
Não sei

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Dor

Escolhi não falar de campos verdejantes
Nem de pássaros, flores ou encantos da natureza
Mesmo que de fato eu lhes admire a beleza
Tenho sempre algo urgente para tratar antes

Num mundo onde sentir a própria dor é deselegante
E é incoveniente expressar sua tristeza
É que vivem as pessoas mais tristes, com certeza
Iludidas com falsos brilhos, emoções conflitantes

Elaborando estas rimas compreendo o que sinto
Aceito, reflito, trabalho e modifico
E às vezes pra fechar o verso até invento

Faço da minha poesia um sagrado recinto
Onde doar minhas reflexões me deixa mais rico
Onde talvez minhas palavras não se percam no vento

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Poema de amor

Não te amo mais
E não é de agora
Só não fui embora
Sei lá por que
Acho que gosto de você
Ou melhor
Da memória
Lembranças do que vivemos
Mas não é só de história
Que vive uma união
Acabou o tesão
Acabou a conversa
Quer saber?
Faz as malas
Vai depressa
Pra que ficar?
Comodismo?
Isso não é vida
Melhor é a despedida
Melhor é recomeçar

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Pressa

Sinto-me muito culpado
Pelo não uso da rima
Que o poeta estima
Lastima ter ocultado

E desprezar qualquer métrica
Deixa-me tão consternado
Que posso ser acusado
De violar a estética

Perdão pois eu tenho pressa
Em expor-me cruamente
Minha intenção não é essa
De ofender a tua mente
E sim de aliviar-me o peito
E assim acho o melhor jeito
Desorganizadamente

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Não por temor do castigo da divindade
Nem esperando favores aqui ou além
Se acredito vigorosamente no bem
É como expressão maior de nossa humanidade

Saber que vem de dentro a fonte de todo mal
Faz dele um inimigo menos poderoso
Pois deixar que o nume o combata é perigoso
Esse dever é nosso, é urgente e é o principal

Não sobreviverei à minha própria morte
Quando esta vida acabar será eternamente
Melhor então fazer que ela seja decente
Melhor contar com a realidade e não com a sorte

Não anseio o perdão incondicional da potestade
Nem desejo que repare todos os meus erros
Me perdoarei e pedirei perdão pessoalmente aos berros
Meus atos são de minha inteira responsabilidade

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Quem avisa...

Você que eu amo e nem sabe
Abra os olhos para essa vida maravilhosa
Que lhe ofereço e não posso dar
E fuja que é ilusão, é falsa
Vai acabar antes do começo
Vai por mim, essa história eu conheço
Tão bem, que mesmo sem intenção
Escrevo nestas linhas que agora lhe endereço
A milésima edição do triste capítulo final

Tchau

domingo, 17 de novembro de 2013

Silêncio

Silêncio!

Magia que emoldura o som
O átimo entre as palavras habita
Entre umas e outras notas palpita
O silêncio é um dom

Em silêncio ouvimos internamente
A música que tanto nos emocionou
Essência de tudo, essência do que sou
O silêncio não mente

Em silêncio vive quase todo o universo
No vácuo absoluto das distâncias infindas
Nem por isso as estrelas são menos lindas
O silêncio mora no meu verso

Shhhhhhh!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Hertz

Divindade abstrata
Que nasce das entranhas
E jaz na tinta
Do tempo és escravocrata
Em tuas artimanhas
Renasces, te reinventas

És fugidia como a brisa
Mas não sais do pensamento
Sem palavras, tua linguagem
É a linguagem mais precisa
Pra falar de sentimanto
E soar uma paisagem

A nau da percepção
Tuas ondas castigam, impiedosas
A embalar calmaria e tormenta
Tens em tua composição
A trama mais maravilhosa
Que a toda humanidade sustenta

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Abissal

Nos mais sombrios pensamentos mergulhado
Afogo esta existência sem sentido
Passo inerte os dias, noites acordado
Com a alma destroçada, mortalmente ferido

Nos estertores da esperança reconheço
Num relance que aterroriza a consciência
Que não sei de nada, que me desconheço
Não sei meu futuro, presente ou proveniência

Profundo mar de escuridão com criaturas abomináveis
Será que te atravessarei, ou tocarei teu leito?
Será que tais agruras são contornáveis?

Porque quando estamos no meio delas não tem jeito
A calmaria às vezes é pior que a borrasca
Aprisiona os sentidos, entorpece o peito

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Saudade

Volte por favor
No espaço ou no tempo
Num disco voador
Mas volte logo
E traga consigo
A vivacidade das cores
O cheiro da tarde
Porque não consigo
Jogar esse jogo
Sozinho
Hoje, lembranças são dores
Volte por favor
Mesmo se fores partir amanhã
O instante será valioso
Se tiver sua presença
Hoje a alegria é distante
Hoje, perdi minha crença
Volte por favor
De noite ou de manhã
Num raio luminoso
Mas volte logo

terça-feira, 12 de novembro de 2013

816 84N6

Da mais desconcertante simplicidade
Surgiu tudo que nos cerca
Estrelas, galáxias, vida e mais
Bastou uma pequena eternidade
E cá estamos nós

Perdidos na vastidão do tempo e espaço
Temerosos que se percam
Florestas, nascentes e animais
Fazendo a pergunta que também faço
Será que estamos sós?

Será a luz feita de ondas ou partículas?
Creio eu, infelizmente
Que para responder a tais perguntas
As palavras vão ficando ridículas
Deveria usar números

Delicada filigrana quântica
Desafia todas leis da física
E deixa embasbacada a semântica

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ruído de fundo

Largo sorriso no rosto
Paz infinita na alma
Tudo do jeito que eu gosto
Tão ao alcance da palma

Lar que me abriga e me vela
Fonte de tanta alegria
Pinta da cor da aquarela
Meu sonhador dia-a-dia

Tantas pessoas queridas
Cercam a vida que levo
Outras já foram perdidas
Quero chorar mas não devo

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

À deriva

Pensei e pesei
Prós e contras
Fiz as contas
Desfiz os nós
Fiquei a sós
Com a emoção
E larguei mão
De nós, de tudo
Contudo
Sem nada me prendendo
Não experimentei a liberdade
Senti minha individualidade
À deriva, se perdendo
Sobretudo
Deixou-me mudo
A solidão
Essa impressão
Tirou-me a voz
E meu algoz
No fim das contas
De malas prontas
Fui eu, bem sei

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Oriundo

Assim passo pelo mundo
Oriundo, nem sei de onde
Buscar o futuro é tudo que faço
Mas ele se esconde

Então paro um segundo
Moribundo, vejo meu rosto
Procuro enxergar minha vida e reparo
Que é só desgosto

Eu lamento estar no fundo
Vagabundo, cansei da luta
Exponho em verdade as palavras que minto
Na minha conduta

Porém como estou imundo
Iracundo, eu me debato
E o domo que um dia já foi meu abrigo
Eu mesmo arrebato

E se trato bem fecundo
E rotundo, cheio de sorte
Não tive com a vida por que sou ingrato
Que tenha com a morte

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tempo

Meu tempo é escasso
Quando ele sobra
Descanso
Eis minha obra
Grande fracasso

Por onde passo
Ela se dobra
E lanço
Meu ser na sombra
Corpo no espaço

É forte o laço
Brusca a manobra
Eu danço
E a morte cobra
Sina que traço

Com o cansaço
Que agora me assombra
Alcanço
Da alva penumbra
Mais um pedaço

Meu tempo é escasso
Quando ele sobra
Descanso em paz

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Do contra

Se eu rio, tenho uma lágrima escondida
Quando choro, é um rio de água salgada
Se te olho, vejo em teus olhos minha vida
E vivo sem ti, sem ilusão e sem nada

Se falo muito, mora o silêncio em minha lida
Verborrágico, tergiversa sobre cada
Tristeza, mágoa passada, luta perdida
Tira-me o sono, faz do dia vil jornada

Se estou parado, é inquieto meu pensamento
Agitado, tremendo marasmo no centro
Contraditório, e coerente em ser assim

É que justo na eternidade do momento
Na vastidão descampada que há por dentro
Te perco, e encontro o começo do meu fim

domingo, 3 de novembro de 2013

Rotulação

Nem inteligente ou ignorante
Não sou tolo ou sequer sou esperto
Não estou errado e nem estou certo
Nem agradável ou exasperante

Sou incomodamente diferente
Pela indiferença aos incomodados
Eu sou dos homens o mais inocente
Possuo a inocência dos culpados

Eis que sou pura individualidade
Indefinível e paradoxal
Pois como eu não há ninguém igual
Em toda história da humanidade

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Desligo

Se a velhice me alcançar
Encontrar-me-á sozinho
Incansável a botar
Novas pedras no caminho
Usando minhas dores
Para envenenar as flores
E estranhamente cultivar
Cada um de seus espinhos

Se a idade a mim vier
Não terei alguém comigo
Amigo, filho ou mulher
Nem sequer um inimigo
Ficarei com minhas dores
Dissipando meus temores
De que venha a morte me buscar
Se for agora, eu não ligo

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Clama

Palavra
Texto que testa
Aquilo que existe
Na cor consiste
Proclama

Palavra
Vento que leva
A veia da questão
Na contramão
Reclama

Palavra
Larva que lavra
A lava do saber
Ala o ser
Conclama

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quem és?

És a minha companheira
Desses momentos mais tristes
Os meus suspiros dementes
Com paciência ouvistes

Acaricias meu rosto
Quando ferem-me os espinhos
E lavas toda minha alma
Quando findam meus caminhos

És cristalina, és límpida
Ao turvar-se minha vida
És uma gota salgada
Que recai sobre a ferida

Minha lágrima querida

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Átomos divisíveis

Há vida na esquina daquelas galáxias distantes
E eu durmo
O tempo passa agora mais rápido que antes
E eu esqueço
O caos reside no cerne da própria ordem
E eu arrumo
Trabalho ingrato e incessante que extenua
E eu mereço

Meus átomos viajam na velocidade do som
E eu canso
Meus pensamentos voam na velocidade da luz
E eu brilho
Meu corpo roda nas elipses da órbita terrestre
E eu danço
Pelo misterioso caminho que à humanidade conduz
E eu trilho

O frio na barriga que esta sensação dá
E eu nego
A dúvida cruel que entrava tudo que há
E eu vou
O Cosmos e a filosofia persistentes a negar
E eu pego
Ínfimo, flutuando no infinito meu ser está
E eu sou

sábado, 26 de outubro de 2013

A Praça

Com seu coreto correto
O som da banda, concreto
E o namoro discreto
Num banco de jardim

Tem uma moça bonita
Que pela noite transita
E toda praça ela fita
Até olhou pra mim

Bem depois da zero hora
Pela madrugada afora
Tem rapaz que traga e cora
Um tipo de capim

E mal amanhece o dia
Todo o povo em romaria
Anda e ora em cantoria
Pro seu Jesus Cristin'

Vem depois um homem forte
Que trepado num caixote
Brada aos ventos o seu mote
Meu povo, vote em mim

No jornal saiu escrito
Que um poeta muito novo
Disse que a praça é do povo
E o aroma do jasmim

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Guerra

Nuvens de aço
Chuva de sal
A Terra tomada pelo mal
Apocalipse
O dia todo, um eclipse
À noite, cansaço

Mares de dor
Rios de sangue
Em chamas a mata, o mangue
Insanidade
Por todo lado, calamidade
Por dentro, terror

Montes de ossos
Campos de morte
Violência e desmandos de toda sorte
Genocida
Metade de tudo, perdida
O resto, destroços

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Conselhos

Se está esperando explicação, sente
Pois o mistério do que se é, vê e sente
Com certeza não cabe na mente
Quem discorda engana-se, ou mente

Se o medo lhe trava, enfrente
Nada é mais vital que seguir em frente
Continue sempre procurando a lente
Que amplie a serenidade, que te alente

Estar aberto a toda a gente
Faz de você o principal agente
De sua vida, da alegria corrente
Desfaz amarras, solta a corrente

Não faça questão de registrar patente
Que a necessidade de compartilhar é patente
Se achar que vale a pena, tente
Evite que o egoísmo lhe tente

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Mortus est

Quando eu morrer quero que seja totalmente
Cada fibra do meu corpo relaxar
Deixar de existir no presente
Apagar o meu passado
Quero ser esquecido completamente
Tudo que fiz, apagado
Minhas palavras se percam no vento
Meu corpo apodreça ao relento
Meus ossos virem pó
Para que nem um ínfimo momento
Da vida de quem quer que seja
Padeça da triste lembrança
De que vivi só

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sinapses

A perda de um amor
A triste despedida
Transfigura uma vida
Causa tamanho torpor
Quando arrebata o âmago do ser
Descartando apenas a centelha crua
Que mais perto da morte nos situa
E até lá o tempo todo para esquecer

domingo, 20 de outubro de 2013

Turbilhão

De manhâ com sono
No almoço com fome
À tarde com raiva
E de noite com tesão
Mais nove meses
Mais outro filho
Pra dividir
O arroz e a ilusão

Manhã com tesão
O almoço com raiva
De tarde com sono
E de noite com fome
Não tem comida
Só tem bebida
Pra te fazer
Esquecer até seu nome

De manhã é tarde
O almoço à noite
O sono com fome
E a raiva com tesão
Bem misturados
Por dentro e fora
Sendo arrastados
Pelo grande turbilhão


sábado, 19 de outubro de 2013

Minha dor

Minha dor é feia, egoísta e doente
Não tem motivo aparente
Vem de dentro, do fundo, do começo
É só, e é tudo o que eu tenho
Sou eu, e é tudo o que eu mereço

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ciranda

Sobre os ombros o mundo
Sob os pés o vazio
No íntimo o desalento e um frio
Que congela tudo em um segundo

Sobre os ombros o frio
Sob os pés  mundo
O desalento que flui lá no fundo
Do íntimo gelado e vazio

Sobre os pés os ombros
No íntimo o desalento
O frio que dá no exato momento
Que transforma o mundo em escombros

No íntimo o mundo
Que flui de momento a momento
Em primeiro chega o frio desalento
O vazio que gela os pés, em segundo

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Escadas

Apático
Telepaticamente patético
Potencialmente patológico
Perplexo perante o espelho

Estático
Estruturalmente estético
Estatisticamente estúpido
Estupefato estorvo meu

Escravo, escrevo escadas
Para escalar minhas escapadas
Escroque, escavo escrúpulos e excrementos
Na escória do meu ser... Esquecer

ESC

Babel
















Do triste sítio onde assisto
Tenho a mais clara visão
Do desejo que eu insisto
Inutilmente alcançar
Se a vida responde não
 
A tentadora impressão
De que há proximidade
Transforma em abismo o vão
Imponente a separar
Meu sonho da realidade
 
Esta será a ruína
Para quem no ciclo eterno
Desejar a mesma sina
O mais alto céu tocar
Das profundezas do inferno

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ausência

Eu tenho certeza de que estás enganada
E duvido de tudo que outrora foi certo
Se o que há entre nós já não tem mais conserto
É que a vida ao redor está transfigurada

Já não vejo de teus ternos olhos o brilho
E se algo brilha é minha lágrima gelada
Que cai da pétala da rosa destroçada
Que jaz pelo espinhoso caminho que eu trilho

Por uma gota de você cruzo um deserto
Imploro, me atiro ao chão, me arrasto, me humilho
E tudo isso é melhor que sofrer o exílio
Conflitante de não tê-la, assim tão de perto

domingo, 13 de outubro de 2013

Autorretrato

A ponta do lápis me fere
E com meu sangue ela escreve
Minha mão se move com delicadeza
Mas é meu cérebro que se convulsiona em movimentos febris
Algo além de mim escreve estas palavras
E nesses momentos sou tão eu mesmo que me desconheço

Futuro

Uma alegria imensa me invade
E eu covarde desconverso
Penso numa rima, desvirtuo o verso
Mas como fugir ao inexpugnável
Minha tristeza fiel foi feita em pedaços
O carinho que sinto mal cabe em meus braços
A música segue meus passos
E sou feliz

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Minotauro

Através de caminhos estreitos
Estufam-se os peitos
Gelam-se os estômagos

E nesse emaranhado infinito
É que nasce o conflito
O que pensamos ser, o que somos

Criações da divina providência
Um aglomerado de átomos
Uma coincidência

Únicos, singulares, especiais
Maçante repetição genotípica
E psicológica, todos iguais

Caminhos emaranhados e estreitos
Cruzam-se no peito que chora
Desembocam no estômago da questão
Que impassivelmente nos devora

Talvez deste labirinto
Haja mais de uma saída
Uma sem volta, outra sem ida

Ou talvez nam haja entrada

Meros prisioneiros da caverna
Vendo sombras nas paredes
Mais nada

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Redenção

Para enfrentar o meu medo
Purificar minha alma
Vou começando bem cedo
A planejar com mais calma
Como escalar meus escolhos

Vou suportar toda dor
E apagar todo ódio
Vou me privar do amor
E verterei todo sódio
Gota por gota dos olhos

E em silêncio o farei
Pois esta trilha é só minha
Isso é tudo o que sei
Deixo de tudo o que tinha
E minha sina eu acolho

Peço coragem apenas
Para sair da penumbra
Com minha fé, mas sem penas
Para, enxergando só sombras
Não me ferir nos abrolhos

Findo este débito meu
Mórbida têmpora fria
Cálido espírito ao léu
Próximo o último dia
Este será meu espólio

Mosto

A uva não vinha só
Vinha em bando, ruiva
Como vinha
E agora esta uva sozinha

Sofrendo choravam um
Rio infindo, rubro
Como vinho
E hoje um caroço mesquinho

A uva ficou tão só
Vem em prantos, rude
Como venho
Formando este triste desenho:

Acho que o cacho se desmanchou
E do bagaço quente restou
Infelizmente
O aço

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Supernova

Do fundo abismo indissociável dos pensamentos loucos
De gravidade infinita, de onde nem sequer a luz escapa
Surgem ideias ao avesso, ou ainda, surge numa só etapa
Um universo invertido, na colossal explosão de gritos roucos

O hélio que inflama e incendeia a sanidade aos poucos
E consome a realidade, e consome esta cena abstrata
Também ilumina, num facho brilhante que reflete e refrata
A criatividade e o gênio, nos olhos míopes e ouvidos moucos

domingo, 6 de outubro de 2013

Estrela

Com seu brilho intenso
Que de longe se vê
E que longe a mantém

Bem sabe que o calor
Que consome o entorno
Consome o interno também

Invejosa dos planetas
Entorpecidos nas elipses insanas
A girar
Orbita imóvel a tristeza
Sozinha no universo a vagar

Quisera não habitar o infinito
E sim um lugar mais bonito
Antes fosse estrela-do-mar

sábado, 5 de outubro de 2013

Ide

Admitir que em si reside
O maior dos obstáculos
Ter a força poderosa
Que é a vida, protegida
Como pelo domo a rosa
Nos mais frágeis receptáculos
É isso que nos divide

Perceber que em si incide
A monumental questão,
Entender a eternidade
Só no tempo de uma vida
Amar toda a humanidade
Num pequeno coração.
É possível, não duvide

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Parte

Quem parte morre em parte
Para si e pra quem fica
O porte triste indica
Um elo que se parte

Parado frente à porta
Porta-se o tempo mal
Fere de forma tal
Que nada mais importa

Assim como no parto
Ao cortar de um cordão
O que era profundo pacto
Torna-se estável união

E muitos quilômetros de saudade

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Dose

Espalha-se na boca
Espelha-se na alma
Tenciona o peito do pé
As costas da palma
Franze a fronte fria
Anoitece o dia
Fortalece a fé
Quando a fé é pouca
Deixa embargada a voz
Que já andava rouca
Trava a garganta
Rasga os pulmões
Revela-nos sós
Entre multidões
Estanca sonhos
Cicatriza esperanças
Coagula ilusões
Os céticos espanta
Acalanta os que creem
Aos que vão, aos que vem
Faz as vias intransitáveis
Gela
Imola
Cala
 
O amargo remédio dos incuráveis

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sutil magnitude

O sublime é tão frágil, tênue dom
Esperança, vontade, vida, fé
Isso é tudo, mas também nada é
Invisível grandeza do que é bom

Na muda velocidade do som
O mal conspira nas trevas até
Que caia tudo que estava de pé
Que desafine o que estava no tom

Mas o bem é nômade viajante
E por seu caráter itinerante
Parece tudo habitar, terra e céus

Pois é no universo entre as sinapses
Na eloquência insana das sintaxes
Dentro de todos nós, que mora Deus

Omnipresença

Pela sala adentro
Pelo mundo afora
Em volta e no centro
Antes, depois e agora
Pela redondeza
A tristeza, a tristeza

Na ponta dos dedos
No fundo da alma
Aplacando os medos
Num gesto de calma
Só uma certeza
A tristeza, a tristeza

Na leve aspereza
Do indecifrável
Com a sutileza
Do inexpugnável
Sentada à mesa
A tristeza, a tristeza

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Charada

Não me pertences
Se nem me pertenço!
Proprietário pretenso
Do mundo material:
Teu engano é fatal
Para a vida ter importância
A matéria deve ser banal
E um pouco de tolerância
Nunca fez ou fará mal
Quando a luz nos é dada
Passa a ser o nosso único bem
Até mergulharmos no breu.
Para otimizar esta jornada,
Basta resolver uma charada:

O que não te pertence é de todos
E nada do que tens é teu.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Arrebol

Assistir, não finda ainda a manhã
Da varanda desta casa tão linda
O entardecer do meu sonho dourado
Nem um pouco  tem me assustado

Surpreso talvez com a sabedoria
De apreciar na agonia das cores
Uma beleza ainda maior que aquela
De outrora plenas luzes ofuscantes

Sei que não sou mais quem era antes
Troquei de moléculas e pensamantos
E antes de dormir, por alguns momentos
Não sei sequer quem sou agora

É que se cora o céu de minha vida
E essa cena assim tão colorida
Me faz esquecer solenemente
A noite iminente, a tarde perdida

domingo, 29 de setembro de 2013

Capitão

Amar o mar amargo e salgado
Amor à morte amiga e traiçoeira
A maior amarra que mantém ancorado
O amador capitão de traineira

A mansa massa d'água revolta
A manta hídrica do oceano
Arrasa o marinheiro que ano após ano
Ameaça partir mas sempre volta

A maré amarela e azul
As maravilhas do polo sul
A melhor marca do coração navegante
Amanhece mais e mais distante

Singrar a desbragados ventos
Os desvairados tempos futuros
Chegar antes vivos que mortos
Aos mais variados portos seguros

Checar a carta celeste
Traçar o percurso preciso
Norte, sul, leste, oeste
É...
Navegar é preciso

sábado, 28 de setembro de 2013

Unguentos

Ó minha amaríssima amada
Não sabes o quanto lamento
Por, logo com meu sentimento
Teres sido tão desastrada

Esta maneira estabanada
Com que tocastes meus momentos
Custou-me a curar, mil unguentos
E a esquecer, custou-te nada

Agora com a tez resignada
Extinto o ígneo torpor dos tormentos
Exalo exultante aos quatro ventos
O aroma da paz conquistada

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Súmula

Desértico
Árido
Ávido
Hermético

Últimas palavras de versos não escritos
Síntese

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Sóbrio ser humano

Estar sóbrio de fé
De fel, de pó, de pão
De paz, de guerra
De Terra, de terra, água, ar, fogo
Razão.
Estar sóbrio de amor,
De dor, de sonho,
E por mais que se torne medonho
Suportar a abstinência
Não buscar sequer na persistência
Um pequeno amparo que seja;
Quando nenhum lenitivo viceja,
Estar sóbrio, mesmo que por um instante,
Da esfera mais perceptível
Ao nível de inconsciência mais profundo...
Se isso fosse possível
Seria a coisa mais aterrorizante do mundo.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Entre dentes

Criatura cruel
Crava dentes e unhas na própria carne
Criva a Terra de ódio
Secreta fel

Como um cancro fatal
Cresta plantas e sonhos da casca ao cerne
Crê na força do vício
Recria o mal

Sem escrúpulo algum
Cresce, destrói e apodrece o que há de bom
Estraga este planeta
É feito de sal

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Eclipse

Já faz dias que não vejo luz alguma
Que me sirva de guia
Ela brilha como sol de verão a pino
Mas desvia, sinuosa, insinuante
Me ofusca e cria sombras
Em que me perco
E me acho no escuro
O que faz de mim quem sou
Jaz numa manhã sombria
No breu do meio-dia
Na certeza do futuro

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Interrogações

Seria o fim o reverso do começo?
E esta sina a sina que eu mereço?
Seria tudo, todo este nada imenso?
E a verdade moraria no que penso?

Alguém poderia me dizer a hora?
Se é anoitecer ou seria a aurora
De pesados pensamentos que outrora
Eu apoiava na mais frágil escora?

Haveria maiêutica nestes versos?
E meus paralelos noutros universos?
Ou erro escrevendo tudo ao inverso,
Fingindo argumentar quando desconverso?

domingo, 22 de setembro de 2013

Cara e Coroa

Escondida sob a crosta das esferas
Respira lenta e mansa como o vento
A avassaladora força vital das feras
A indestrutível continuidade do tempo

O orvalho recai sobre a relva
Mas é magma o que dorme sob o chão
E o impenetrável silêncio noturno da selva
É incendiado pela lava e o rugido do leão

É que dançam lado a lado no compasso do eterno
A brutalidade e a delicadeza da ecologia
A calma que há por fora e o tormento mais interno
Entre o animal e seu habitat, perfeita sintonia

sábado, 21 de setembro de 2013

Era Maré


Em águas profundas aonde a luz não chega
Mergulha de um só fôlego até o infinito
Do nada, segue o nauta o caminho estrito
E aos poucos da superfície se desapega

O frio intenso e a negra escuridão que cega
O sal, o sul, e a aspereza do granito
Privam de consciência, num ato bendito
Aquele que à força das correntes se entrega

Sei que o mar cobra a vida que um dia gerou
Gela os nervos tensos que outrora acalentou
Cumpre sim seu papel no ciclo natural

E se hoje já nem me lembro de quem sou
E não mais importa se venho ou se vou
É porque me tornei criatura abissal

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Poema vazio


Escritas pelo lápis e não pelo punho
As palavras que nada exprimem
Põe no papel o triste testemunho
De quem um dia foi um homem
Outrora poeta, hoje poeira
Espalha em letras aleatórias
A sensação mais verdadeira
Por tantas falsas histórias
Castelo de cartas, de areia
Desmorona dentro de mim
Poema vazio, que ninguém o leia
Não me admira acabar assim