quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Derrota

Um sorriso tímido que se apaga
Um olhar doce que silencia
Sozinha na mata escura e vazia
Frágil vida que a noite traga

Na tristeza feroz, esta adaga
Com o sol escaldante que irradia
Setas cortantes de pura agonia
Que seu tênue equilíbrio se estraga

Mansa relva, por favor afaga
Este rosto que há pouco reluzia
E que o vento assovie linda melodia
Embalando o fim de sua curta saga

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Inverno

Inverno covarde
Vento que varre a vastidão
Gélida tristeza que invade
Pela fresta da alma, por um vão
A taverna que hospeda o coração

Inferno que arde
De frio, de fome e solidão
Tépido veneno corre à vontade
Pelas vias venais da razão
Entre corpo e mente, vicinais na contramão

Enfermo, não tarde
A curar a vida, vedar a emoção
Vasculhar em volta pela felicidade
Acalentar a doce ilusão
De ver novamente o vigor do verão

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Refugiados

Fujo do mal, fujo por mar
Fujo da tristeza que corta
E venho sem nada carregar
Desesperado bater à sua porta

Fujo da guerra, fujo por terra
De uma dor que ninguém mais suporta
E não estou só, se o cálculo não erra
Outros milhões vem correr à sua porta

De um tirano medonho, fujo por sonho
Quando parece que ninguém se importa
Não se admire se pareço tristonho
Venho resignado morrer à sua porta

sábado, 12 de setembro de 2015

Prisma

Refratada em sete cores
Pelo prisma da saudade
Minha luz não mais invade
Estes tristes arredores
Onde havia intensidade
Resta a crônica vontade
De seguir-te aonde fores

Refletida a minha alma
Pelo espelho da verdade
Mostra as trilhas da idade
Onde perco minha calma
Quando a tua luz se evade
Sinto que a felicidade
Vai escorrendo em minha palma

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Vida útil

Corre solto
Tempo largo
Passa logo
Pesa muito
Corre solta
Mente fértil
Passatempo
Pressa pouca
Corre louca
Vida fácil
Morre cedo
Vida fútil
Morre fácil
Vida louca
Coisa pouca
Vida útil

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Ariana

Eu tô tão na sua que
Sei lá
Alguma coisa dentro de você
Que eu não sei explicar
Talvez uma molécula do DNA
Que ferve no seu sangue
Exala na pele
E me faz respirar
Uma luz que transparece dos olhos
E já não olho pra outro lugar
Sua voz que nunca desafina
Me desatina
Não consigo raciocinar

Vence o cansaço

Tenho força tremenda
Energia infinita
Vontade de aço
Mas sempre vence o cansaço

Sou eu quem desvenda
A teoria proscrita
Do tempo e do espaço
Mas vence o cansaço

Abri uma senda
Na seara bendita
Mas em tudo que faço
Vence o cansaço

Corpo, aprenda
Mente, reflita
Dá-me um abraço
Cansaço

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Forças

Mais um vendaval
Se bate lá fora
Um vento que chora
Com força total

Feroz animal
Que ordena e implora
Onde ele mora?
No essencial

A criatura banal
Que as forças ignora
Comete agora
Engano fatal

domingo, 6 de setembro de 2015

Admirador

Amo, mesmo com o sentimento quebrado
Além de ti, toda a obra da natureza
E admirando-lhes timidamente, acabrunhado
Mantenho a chama de minha vida acesa

O azul das matas, do oceano o dourado
Os ângulos adocicados que teu rosto expressa
O aroma das praias, do campo molhado
E o terno calor que tua língua confessa

Assisto o mundo, quieto, encantado
Saboreio teus sinuosos sentimentos sem pressa
Acho que no fundo, mais do que apaixonado
Sou um irrecuperável admirador da beleza

sábado, 5 de setembro de 2015

Que pena!

Nada, nada, nada
Sensação abandonada
Que toma a cena
Que pena! Que pena
Entre a cruz e a espada
Ante o céu, a escada
Um enorme problema
Tema, trema e trema
A esperança destroçada
A existência marcada
Por este triste emblema
Poema, poema

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Latente

Nada estanca esta ferida
Que dia a dia, sol a sol
Drena um pouco minha vida
Esta tristeza aguerrida
Uma aura desiludida
O timbre cortante, a nota bemol
Que deixa minha sonata perdida
Minha sinfonia, esquecida

Arde cronicamente, doída
Apesar do formol
Da alegria fingida
Arruinado farol
Que já não dá guarida
E as naus nas pedras trucida
Quando um sorriso decola
Ensaia uma subida
Estol

Amadurecer

A linha do tempo segue inclemente
Tecendo filigrana delicada
Com as nossas vidas elaborada
Aos nossos sonhos indiferente

Não sinto mais a passagem dos dias
As horas caem qual folhas outonais
Navio que não retorna para o cais
A juventude que devagar se distancia

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Gaia

Tantas trilhas trêmulas tracei
Tentando transpor teus territórios
Todos teus trechos tortuosos tateei
Topos tácitos, terrenos transitórios

Tu tens topografia tremenda
Terremotos, tragédias, terrível torrente
Também tão timidamente tenta
Teus transeuntes tratar ternamente