quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Lápide

Não quero mais escrever
No país que não raciocina
A palavra não se faz valer
Inútil ofício que desanima

Em tempo de fúria assassina
A pena dá pena de ver
E a espada maldosa elimina
A esperança antes mesmo de nascer

Meu último verso o vento vai testemunhar
Já que ao vento ele sempre pertenceu
O que penso e sinto não tem mais lugar

Tão triste é a constatação que me acometeu
Que a registrei solenemente para adornar
A lápide de mais um poeta que morreu

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Derrota

Um sorriso tímido que se apaga
Um olhar doce que silencia
Sozinha na mata escura e vazia
Frágil vida que a noite traga

Na tristeza feroz, esta adaga
Com o sol escaldante que irradia
Setas cortantes de pura agonia
Que seu tênue equilíbrio se estraga

Mansa relva, por favor afaga
Este rosto que há pouco reluzia
E que o vento assovie linda melodia
Embalando o fim de sua curta saga

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Inverno

Inverno covarde
Vento que varre a vastidão
Gélida tristeza que invade
Pela fresta da alma, por um vão
A taverna que hospeda o coração

Inferno que arde
De frio, de fome e solidão
Tépido veneno corre à vontade
Pelas vias venais da razão
Entre corpo e mente, vicinais na contramão

Enfermo, não tarde
A curar a vida, vedar a emoção
Vasculhar em volta pela felicidade
Acalentar a doce ilusão
De ver novamente o vigor do verão

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Refugiados

Fujo do mal, fujo por mar
Fujo da tristeza que corta
E venho sem nada carregar
Desesperado bater à sua porta

Fujo da guerra, fujo por terra
De uma dor que ninguém mais suporta
E não estou só, se o cálculo não erra
Outros milhões vem correr à sua porta

De um tirano medonho, fujo por sonho
Quando parece que ninguém se importa
Não se admire se pareço tristonho
Venho resignado morrer à sua porta

sábado, 12 de setembro de 2015

Prisma

Refratada em sete cores
Pelo prisma da saudade
Minha luz não mais invade
Estes tristes arredores
Onde havia intensidade
Resta a crônica vontade
De seguir-te aonde fores

Refletida a minha alma
Pelo espelho da verdade
Mostra as trilhas da idade
Onde perco minha calma
Quando a tua luz se evade
Sinto que a felicidade
Vai escorrendo em minha palma

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Vida útil

Corre solto
Tempo largo
Passa logo
Pesa muito
Corre solta
Mente fértil
Passatempo
Pressa pouca
Corre louca
Vida fácil
Morre cedo
Vida fútil
Morre fácil
Vida louca
Coisa pouca
Vida útil

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Ariana

Eu tô tão na sua que
Sei lá
Alguma coisa dentro de você
Que eu não sei explicar
Talvez uma molécula do DNA
Que ferve no seu sangue
Exala na pele
E me faz respirar
Uma luz que transparece dos olhos
E já não olho pra outro lugar
Sua voz que nunca desafina
Me desatina
Não consigo raciocinar

Vence o cansaço

Tenho força tremenda
Energia infinita
Vontade de aço
Mas sempre vence o cansaço

Sou eu quem desvenda
A teoria proscrita
Do tempo e do espaço
Mas vence o cansaço

Abri uma senda
Na seara bendita
Mas em tudo que faço
Vence o cansaço

Corpo, aprenda
Mente, reflita
Dá-me um abraço
Cansaço

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Forças

Mais um vendaval
Se bate lá fora
Um vento que chora
Com força total

Feroz animal
Que ordena e implora
Onde ele mora?
No essencial

A criatura banal
Que as forças ignora
Comete agora
Engano fatal

domingo, 6 de setembro de 2015

Admirador

Amo, mesmo com o sentimento quebrado
Além de ti, toda a obra da natureza
E admirando-lhes timidamente, acabrunhado
Mantenho a chama de minha vida acesa

O azul das matas, do oceano o dourado
Os ângulos adocicados que teu rosto expressa
O aroma das praias, do campo molhado
E o terno calor que tua língua confessa

Assisto o mundo, quieto, encantado
Saboreio teus sinuosos sentimentos sem pressa
Acho que no fundo, mais do que apaixonado
Sou um irrecuperável admirador da beleza

sábado, 5 de setembro de 2015

Que pena!

Nada, nada, nada
Sensação abandonada
Que toma a cena
Que pena! Que pena
Entre a cruz e a espada
Ante o céu, a escada
Um enorme problema
Tema, trema e trema
A esperança destroçada
A existência marcada
Por este triste emblema
Poema, poema

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Latente

Nada estanca esta ferida
Que dia a dia, sol a sol
Drena um pouco minha vida
Esta tristeza aguerrida
Uma aura desiludida
O timbre cortante, a nota bemol
Que deixa minha sonata perdida
Minha sinfonia, esquecida

Arde cronicamente, doída
Apesar do formol
Da alegria fingida
Arruinado farol
Que já não dá guarida
E as naus nas pedras trucida
Quando um sorriso decola
Ensaia uma subida
Estol

Amadurecer

A linha do tempo segue inclemente
Tecendo filigrana delicada
Com as nossas vidas elaborada
Aos nossos sonhos indiferente

Não sinto mais a passagem dos dias
As horas caem qual folhas outonais
Navio que não retorna para o cais
A juventude que devagar se distancia

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Gaia

Tantas trilhas trêmulas tracei
Tentando transpor teus territórios
Todos teus trechos tortuosos tateei
Topos tácitos, terrenos transitórios

Tu tens topografia tremenda
Terremotos, tragédias, terrível torrente
Também tão timidamente tenta
Teus transeuntes tratar ternamente

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Luto

E agora? 
O que vem agora?
Quando a lágrima extenuada 
Já não chora
E o tempo petrificado
Lentamente se revigora
E transcorre inclemente
Como o sol raiando lá fora
Indiferente à neblina
Que trago aqui dentro

É a sina de toda a vida
Perecer
De todo viajante
Ir embora
Na nossa casa 
Não tem mais você
E a alegria também já não mora

O olhar solidário
O carinho da família
É o que tenho por hora
E sonharei com o dia
Em que terei no rosto
Aquele sorriso que aflora
Por um instante que seja
Aquela luz benfazeja que explora
As brechas de um coração solitário


domingo, 30 de agosto de 2015

Oração

Estes pássaros cantando não sabem que morri
E o azul do céu também não ficou mais triste
Tudo que há no mundo, tudo que existe
Vai continuar mesmo que eu não esteja mais aqui

Pode rezar à vontade, se a oração te conforta
Não posso mais me alegrar por lembrares de mim
Melhor se você me dissesse em vida, antes do fim
Que zelaria por aquilo que para mim realmente importa

Se quer me homenagear, dispense as velas
Respeite, ao invés, aquilo que respeito
Cuide das coisas que eu cuidava
Admire-se com a beleza das que eu achava belas
Ame as pessoas que eu amava
Com o mesmo amor que tinha no meu peito

sábado, 29 de agosto de 2015

Música

És foz onde deságua meu amor
Faz jus ao nome que te chamo
Quis mais amar do que já amo
Desfez o ninho de minha dor

Tens tez macia que acalanta
Pôs voz no tímido sentimento
Traz luz, magia e movimento
Estás na vida de quem canta


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ata

Venho por meio desta ata, relatar um acontecimento que se deu na presente data, 27 de agosto de 2015, e que infringiu o regulamento. Um dos nossos, um burocrata, parece que perdeu o discernimento e saiu por aí à cata de uma filosofia de boteco que lhe servisse de argumento. E com praticidade, o psicopata, simplificou o procedimento, permitindo à multidão pacata, resolver os seus problemas sem nenhum aborrecimento. Tratemo-lo como persona non gata, onde digo gata, não digo gata, digo grata, por ceifar nosso rendimento e zombar de nossa ocupação agora obsoleta, graças a esse jumento.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Carla

Toma de meu pulso a regularidade
Arranca o fôlego de dentro de mim
Exaure o ar da proximidade
Tua tímida figura me deixa assim

O pensamento fica meio confuso
O raciocínio mais e mais devagar
O discernimento cai em desuso
O azul de teus olhos a me afogar

Ouvindo tua voz doce e delicada
Minha voz fraqueja e titubeia
Não sou capaz de perceber mais nada
Além do teu canto de sereia

Um mundo de sonho entra em vigor
Súbito a realidade fica distante
Tira-me com carinho desse torpor
Essa tua inteligência tão vibrante

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Luz

Trespassa os confins do infinito
Ilumina a tez azulada
Da pequena rocha isolada
Querido lugar onde habito

Vaza por todos os lados
Traz vida, faz festa
Seu terno calor nos empresta
Lindos dias ensolarados

Até a tristeza ela alcança
Penetra o breu da dor crua
Saltitando veloz, reflete na lua
Respinga na noite trazendo esperança

domingo, 23 de agosto de 2015

Real

Tão mais linda que a magia
É a pura realidade
Construída ao longo de tempos imemoriais
No passo a passo da necessidade
A matéria vindo da energia
Proteínas tornando-se animais

O mágico tudo contraria
Ignora a ancestralidade
Transforma o mundo em ilusões banais
Nos confere falsa superioridade
Submetida à uma análise fria
Não responde questões essenciais

Há quem ache que não tem poesia
Na crueza da verdade
Afirmo que se tratam de conclusões superficiais
A fisioquímica em sua complexidade
Tem toda a beleza que poderia
Clareza, elegância e muito mais

sábado, 22 de agosto de 2015

Decepção

Desmoronam solenemente um a um
Os fundamentos de minha ideologia
Caem e recaem sobre os escombros
De tudo aquilo em que acreditava
A feroz ambição humana que cega
Domina, corrói, apodrece e entrava
Matou um lindo sonho de justiça
Expropriou a esperança, roubou a poesia

A mentira densa e obscura como petróleo
As elucubrações falaciosas de sua vã filosofia
A traiçoeiros golpes impiedosos de facão
O terreno fértil de nossas ilusões desbrava
Mas num dia inevitável a verdade vem à tona
E como fera, os dentes em nossa convicção crava
Curado o ferimento, nos resta a imunidade
Às bactérias de sua torpe biologia

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Homem

Tenho um pé na água
Outro na terra
Uma mão que esmaga 
Outra que entrega
A cabeça no ar
Pronta pra guerra
E muita mágoa
No coração

Tenho um olho no real
Outro no imaginário
Um ouvido absoluto
Outro precário
Uma língua afiada
Nariz empinado
Sou um ponto infinitesimal
Na multidão

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Derrotado

Num lance de dados
Nas batalhas de ferro e de fogo
Os desejos sonhados
Não parecem que vão chegar logo
E aqui estou eu perdendo o jogo

No leilão da vida
Nos lances ousados que ofereço
Minha compra perdida
Pelo jeito fugaz que me expresso
E aqui estou eu pagando o preço

Num campeonato
As chances de vitória talvez
Existissem de fato
Mas a sorte me traz um revés
E aqui estou eu passando a vez

Crise

Ar pesado, água turva
Feroz tempestade se avizinha
Presságio funesto da aura daninha
Que espera na próxima curva

Ofegante, sangue quente
Voraz predador de tocaia
Lutando ou correndo, a tragédia se ensaia
Esforço se mostra impotente

Folha seca, seiva bruta
Atroz motosserra que corta
A raiz da questão de tudo que importa
Mais nada na selva se escuta

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sonho

Venho de lugar indefinido
Planície íngreme, deserto verdejante
De fotos, de bagagem desprovido
De fato, um curioso viajante

Tenho uma interrogação no semblante
E um estrondoso silêncio no ouvido
A realidade altera-se diante
Do meu passo tímido e decidido

Ora voando sem dificuldade alguma
Ora os pés trancados no chão
Por imaginários pesados ferrolhos

Revejo entes queridos na bruma
Memórias confusas se vão
No movimento rápido dos olhos

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Buraco negro

Sangradouro da matéria
Final de toda luz
A uma substância funérea
Tudo um dia se reduz

Onde o tempo para de vez
Quando o onde está ausente
Infinita gravidade que desfez
O passado, o futuro e o presente

A esperança já não existe
A alegria estertorou
E até o que sobrou de triste
Sua negra moela esmagou

Curioso objeto matemático
Que habita os confins do universo
E o centro dos meus sentimentos

Dizem o físico teórico e o prático
Que talvez o seu reverso
Seja um mundo de encantamentos

No torpor da loucura mais sã
Penso que o reverso de meu buraco negro
Talvez seja o amanhã

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Coração

Há palavras que só existem na mente
E não encontram ressonância no mundo
São aquelas que iriam mais fundo
Nas sombras confusas que o coração sente

Há momentos que só existem no sonho
E não se encontram numa brecha do tempo
São aqueles que trariam movimento
Ao coração hoje inerte e tristonho

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Quintal

Nada tinha mais importância
Que correr solto, desembestado
Pelo pequeno infinito inusitado
Do quintal nos fundos da infância

Tudo esquecer, mergulhado na ânsia
De viver neste planeta inventado
E sentir no rubor do rosto suado
O vento veloz que traz refrescância

Totalmente alienados dos perigos lá fora
Do mundo feroz que os sonhos devora
Brincávamos eu, meus primos e algum amigo

Blindados pela nossa própria inocência
E acariciados pela doce benevolência
Da querida família que nos dava abrigo

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Falsa modéstia

Sou indigno de figurar entre os mestres
Infante imberbe da semântica
Mendigo infame da semiótica
Portador de uma prosa quântica
Perpetrador de poesia caótica
Contraponho à Velázquez, da Vinci e Dali
Minhas pinturas rupestres

Não mereço estar entre os preferidos
Insano insosso da estética
Simulador insalubre da ótica
Autor de uma coloração patética
Detentor de pincelada robótica
Contraponho à Beethoven, Mozart e Ravel
Meus cacofônicos ruídos

Minhas melodias e meus acordes complexos
Não deveriam soar para a posteridade
Violador das leis primais da acústica
A quem carece de elegância a sonoridade
E que tamborila uma rítmica rústica
Contraponho à Drummond, Camões e Pessoa
Meus balbucios disléxicos


Fraco

Trago na voz
Este tom vibrante
Monocórdica canção
De minha duvidosa autoria
Rebimba vigoroso
Mas de tão distante
Soa mais como
Delicada melodia

Trago na tez
Este tom cintilante
Monocromática visão
De minha honrosa fisionomia
Fulgura poderoso
Como uma bruxuleante
Brasa que a brisa branda da noite
Apagaria

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Criança

Sorriso meu
Gotinha de felicidade no oceano
Aquece minha vida
Se é o amor que humaniza
Você me faz humano

Carinho meu
Estrelinha azul no universo
Clareia minha noite
Se o açoite da rotina inferioriza
Você me faz o inverso

Sonho meu
Momento precioso na eternidade
Valida meu presente
Ausente tudo o mais, ainda caracteriza
O que tem de melhor na humanidade

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Dia

Manhã aberta, de vastas luzes
Incorre em incertas probabilidades
Dispersando o despertar pelas cidades
Renovando a vida que conduzes

Tarde mansa, de longas horas
Escorre dourada, mel do tempo
Levando leveza ao movimento
Repetitivo da vida que exploras

Noite alta, de trilhas cegas
Ocorre em silêncio, às escondidas
Furtando as futuras lembranças perdidas
Do refugo da vida que relegas

terça-feira, 28 de abril de 2015

Felicidade

Te perdi pelas ruas da cidade
Lentamente arrastada pelo asfalto
Do terraço do prédio mais alto
Atirada nos bueiros da saudade

Te esqueci com a chegada da idade
Abandonada à própria sorte numa esquina
Do salão da casa mais granfina
Desaguada no esgoto da maldade

Te vivi com toda intensidade
Pelo breve momento que pude
Em algum lugar de minha juventude
Ficaste emoldurada para a posteridade

terça-feira, 10 de março de 2015

Orador

Minha palavra abala
Força sísmica fora de escala
Meu verbo fere os sentidos
Nas emoções resvala
Tange as cordas vocais
Tinge de vermelho a razão
O burburinho insolente cala
Aterroriza a mentira
Amortiza a mediocridade
A verdade
Embala
Dom de esculpir com a fala

terça-feira, 3 de março de 2015

Monossilábico

Eu 
Sem

Do

Ao

Do
Céu
Ao
Chão
A

Quem
Fez 
De
Mim
Tão


Ser
O
Que
Se
É
Eu
Sem
Fim
Foi
Por
Um
Triz
Um
Véu
De
Luz
Na
Mão
Quem
Fez
O
Que
Eu
Fiz

Foi
Sim
Mas
Não
Foi
Não

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Toró

Venta para longe daqui aura 
insalubre de borrasca, venta
Afasta esta tempestade de
sentimentos que me encharca
Esta chuva de pensamentos
Que me atormenta 

Fujo desamparado desta noite 
agourenta, pois o louco que a 
procela enfrenta descobrirá
mais cedo ou mais tarde que
a estrutura não aguenta
A alma se arrebenta

Raios relâmpagos e trovões
Insights da tormenta
Iluminem por um instante
Este ser que se adoenta
Acordem com estardalhaço
A força que por hora se ausenta

Força que salva, que me alenta
E ajuda a soprar para longe 
esta aura pestilenta de mágoa
Esta chuva, um pé d'água
Que destroça minha casa
Venta para longe daqui, venta

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ia

Minha tristeza se irradia
Como lindas gotas prateadas
Choro estas lágrimas enluaradas
Em plena luz do dia

A dura jornada que inicia
Me traz esperanças quebradas
Uno peças disparatadas
No quebra-cabeça da alegria

Antes, firme e decidido eu subia
Hoje estas quedas desenfreadas
Tropicando cegamente nas escadas
Que tão nitidamente eu via

De fato, tudo o que eu queria
Era dar boas risadas
Mas que não viessem acompanhadas
De dor latente, de profunda agonia

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Fera

O que penso pesa
O que posso, faço
É que nesse passo
Tudo se despreza

O que passo, lesa
O que quero caço
Tomam um pedaço
Punho se retesa

O que faço cessa
O que penso passa
É uma desgraça
Fera indefesa

domingo, 22 de fevereiro de 2015

DNA

Antes da vida na Terra
Dentre trovões e vapores
Em meio a vulcões e tremores
Nasceu substância insólita
Indo do nada ao magistral
Naquela sopa primordial
A natureza não erra

Toda existência ela encerra
Intrincada espiral da genética
Moldou paciente, toda criatura
Interiorizada na estrutura
Na trama ocasional da estética
A natureza as vezes erra

Criou uma verdadeira guerra
Indo em busca da sobrevivência
Todos os seres em brutal concorrência
O mais fraco encontrando a morte
Sob o peso do mais forte
Induzindo constante mutação
Nutrindo a próxima geração
A natureza sempre erra

Grunhe, ruge, relincha, berra
Uma infinidade de formas de vida
A espécie humana desenvolvida
Nossa complexa mente nos habilita
Imaginar que o destino se cumpre
Natureza, está certa sempre
Até nas vezes em que erra

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Fuga

Porta afora, decidido
Passo firme, peito aberto
Da verdade estou mais perto
Deste mundo, desiludido

Vão dizer que fui vencido
Que estou errado, ou que estou certo
Que de razão estou coberto
E mesmo assim, arrependido

Vou tapar o meu ouvido
E dar uma de esperto
Abro o peito, o passo aperto
E logo terei desaparecido

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Pari passu

Fio a fio, deslizam por meus dedos seus cabelos
Dia a dia nosso amor fica maior
Meio a meio, dividimos atropelos
De sol a sol, me purifica seu suor

Dois a dois, pavimentamos o caminho
Passo a passo nosso laço a estreitar
Gota a gota, nós sorvemos deste vinho
De mais a mais, não podemos reclamar