domingo, 9 de novembro de 2014

Herói

Ao amigo José Roberto

Enfrentei gigantes
Enfrentei meus medos
Como nunca antes 
Desvendei segredos
Digo eu com gosto
Que este meu sorriso
Não deixou meu rosto
Mas eu te preciso
Muito mais agora
Não me vire as costas
Já não tenho forças
Veja minha lágrima
Escorrendo tímida
Latejando úmida
Veja minha vida
Que não tem mais graça
Por favor desfaça
Este mal tremendo
Não estou podendo 
Mais te ajudar
Fracos e oprimidos
Juntem os seus braços
E a largos passos
Venham me salvar

sábado, 8 de novembro de 2014

Velho

À Manoel de Barros

Não é que emudeci
Nem estou alheio a tudo
Como pode parecer
O tempo, na verdade
Me sensibilizou
É que o mundo me impressiona demais
E até eu reagir
Achar palavra
Já mudou o assunto
E eu pasmando risonho

Vejo meninos brincando a minha volta
Tão rápidos, parecem borrões
As meninas que aninhei nos braços
Embalam hoje suas próprias crianças
A vida me orbita
Mas já não me habita com o mesmo vigor
Sinto-me em câmera lenta
Como as árvores
Assistindo à passagem das eras
A história me esquece gradualmente
E eu pasmando tristonho

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Deixa pra lá

A tristeza que machuca
A saudade que me corta
A verdade que fechou
A janela nos meus dedos
E que na minha cara
Bateu a porta
Parecem insuportáveis
Mas nada importa

Esta mentalidade tacanha
Esta filosofia torta
Que a humanidade esbanja
E até ostenta orgulhosa
A amargura que
Entope minha aorta
São tão sufocantes
Mas nada importa

Todos os recursos esgotados
Uma estrutura que não suporta
Nossa loucura, nossa ganância
Uma sociedade falida
Uma vida fracassada
Minha ilusão está morta
E já não tenho palavras
Que expressem com poesia
A sensação que me acomete
Mas não se engane
Continuarei escrevendo
A rima que se dane
Nada mais importa

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Redes sociais

Sinto que o mundo não cabe em mim
Pressinto que esta ambição a mim não cabe
Sinto muito não ser aquele que tudo sabe
Vivendo no infinito, sou criatura que tem fim

Quisera ouvir todas músicas já feitas
Beijar todas moças que existem, cheirar todas flores
Dizer que amo todos meus amigos, perdoar os agressores
Vivendo num mundo caótico, criaturas imperfeitas

Pudera dividir o átomo a frio, no tempo viajar
Pisar o barro do Nilo, afagar ursos polares
Brincar com meu filho no tapete da sala, expedições lunares
Vivendo uma vida de sonho, obcecado pelo despertar

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Poesia

Aqui nestas linhas onde subsisto
Nas entranhas de versos vorazes
Digo tudo o que pensas
Sei tudo o que fazes
Um enorme poder eu conquisto

Na trama da métrica em que resisto
Na teia de rimas audazes
Sangro sensações intensas
Verto ideias sagazes
Na veia da palavra eu invisto

Mas se meu traçado não é visto
Não passo de borrões incapazes
Tantas histórias imensas
Perdidas em letras fugazes
Sem teus olhos não existo


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Nada

A vela que me vale neste mar
Naufraga solenemente
A veia que me nutre, infelizmente
Destinada a falhar

A vela que ilumina o caminhar
Por este vale inclemente
A verdade que se mostra, contundente
Destinada a apagar

A vala que logo há de me abrigar
Briga que travo eternamente
Repulsa e desejo, contradizente
Deste nada abraçar

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Vida

Deixe-me mansamente
Matéria inconstante
Jazendo inerte
A tudo indiferente
Do nada integrante

Deixe-me totalmente
Em menos de um instante
E assim conserte
Meu corpo decadente
Minha mente pulsante

Deixe-me inconsciente
Nesse momento agonizante
Para enfim saber-te
Mais do que presente
Determinante

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eclipse II

A abóbada abobada do céu
A borda do mar, aborda
Quer saber aonde é que se meteu
O Sol que meu amor acorda

A corda de que pendia desprendeu
E o soltou pela noite afora
A Lua quando o viu se surpreendeu
E o passar do tempo perdeu a hora

Não é que o danado se escondeu
Atrás da amiga esbranquiçada
Volta cor-de-abóbora amigo meu
E deixe nossa vida iluminada

sábado, 23 de agosto de 2014

Usted

Substância mística esta que te compõe
Substância etérea
O arranjo molecular de teu calor
De teu olhar
Tua risada séria

A mágica de que teu sorriso dispõe
Sensação aérea
Pelo céu de teu toque planar
Disco voador
Sobrevoando a Ibéria

domingo, 17 de agosto de 2014

Aço

De lance em lance
De passo em passo
Cada dia aumenta meu embaraço
De tudo que penso
De tudo que faço
Resta-me apenas cansaço
Preciso de tempo
Preciso de espaço
Para esta sina que traço
Prisioneiro da mente
Cativo do laço
Vítima fatal da presa que caço

sábado, 16 de agosto de 2014

Espinho

Rosa
Quer ser minha esposa?
Posa em meu retrato
Pousa estrepitosa
Feito mariposa 
Na poça de mel do meu substrato
Diga a todos como te trato
Do domo que te confeccionei
Para que nenhum tigre possa
Arranhar o teu recato
Ou invadir a tua roça
Vem mais perto
Que a encosta onde habitas
Não alcanço
Encosta
Roça minha mão
Ai!!!

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Lua

Reluz querida
Em doces raios, colorida
Em duros brilhos, travestida
De sol

Traduz a vida
Em tua carne, refletida
Pelas trevas conduzida
Farol

Seduz a lida
Do cantor, do poeta que elucida
De noite, o que o dia susteniza,
Bemol

Faroeste

Teu herói e teu bandido
Devo sê-los
Pelos elos que nos prendem
Pelos selos que rotulam
Mas teus cabelos configuram
O meu ninho, meu sentido

Me desculpe ter mentido
Os teus pelos eriçados
Acusando-me, dourados
Teus castelos demolir
Mas nos novelos do teu sonho
Plenamente me exponho
Indefeso a dormir

Sou eu que velo o teu sono
E que melo tua boca
Teu herói e teu bandido
Teu amigo e opressor
Personagens que despontam
Paralelos que se encontram
No infinito do amor

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sedação

As horas não passam
Embaçam
Sei que demoras
E não sei mais nada

Em algum lugar depois daquela curva
Esfacelou-se a estrada
E minha mente ficou turva

Não sinto a ponta dos dedos
Consciente apenas dos medos
O resto é um borrão
Mas sei que demoras
E que me mata a solidão

Aqui, de tudo distante
A voz abafada a contragosto
Espiando a vida de uma fresta

Aplaca esta dor lancinante
Um vislumbre do teu rosto
Pelo tempo que me resta

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Emoção

Arranca de meus olhos
A última lágrima contida
E de meu íntimo
A esperança suprimida
Pelas agruras
Pela dureza da vida
Arda como nunca
Esta velha ferida
Dormente
Só há uma saída
Decente
Entregar-me a ti
Querida

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Cantiga

Cante para mim
Canção em modo menor
Pra eu me sentir melhor
Pra eu te sentir assim

Esquecer que tudo tem fim
Concentrar-me no bem maior
Antes que fique pior
Dizer menos não e mais sim

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ódio

Surge do abismo obscuro da mente
Brota no campo sem flores da dor
Tudo transforma em cinzas somente
Pela manhã força o sol a se por

Troa feroz em meu grito demente
Ruge soturno em tom perturbador
Ferve meu sangue, me deixa doente
É um dos lados avessos do amor

Deixa-me livre ó vil sentimento
Quero nutrir só o bem em meu peito
Ser o mais calmo e manso possível

Devo contar como é meu pensamento
Penso que é certamente o respeito
Que faz de mim ser humano invencível

domingo, 18 de maio de 2014

Contraponto

Tento tanto
Conto, canto
Vendo gente
Sendo manso
Adianta?

Mundo lento
Muito vento
Vindo junto
Sinto tonto
Contraponto!

Tendo visto
Penso: Venço
Nunca canso
Minto; findo
Esperando.

sábado, 17 de maio de 2014

Sensorial

O azul que vejo
O Amazonas, o Tejo
O sabor de seu beijo
É tudo ilusão

Sem meus olhos
A cor não fulgura
O rio se transfigura
Em água impura
Sem teus olhos
Sou só solidão

É por que sinto
Que tudo existe
E se tudo é tão triste
É que a tristeza
Mora em meu coração

Coração que não sente
Leva a culpa, inocente
Do que se passa na mente
O desejo, a loucura que insiste
Na latente paixão

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Decrepitude

Cobra, tempo implacável
Meu débito de prazer
Pago resignado
O que vou fazer
Se a finitude em meu leito se desdobra?

Obra inalienável
Minha vida devo viver
Grato, ensimesmado
Ou é melhor morrer
A sofrer o resto do tempo que me sobra?

terça-feira, 13 de maio de 2014

Prático

Não me importo com poesia
Não olho pro lado, não sinto o momento
As palavras que disse outro dia
Foram perdidas no vento

Não me cativam as flores
Penso no hoje, vou direto ao ponto
Se precisares, te sigo aonde fores
Mas como amigo, não como um tonto

sábado, 10 de maio de 2014

Terra

Esfera azulada
Envolta em nada
Paciente, espera
A próxima rodada
Rotação

Na era passada
Trilhou nossa estrada
Persistente, esmera
Transcende a jornada
Translação

És fera acuada
Rugindo indomada
O magma, a cratera
A crosta transtornada
Revolução

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Empáfia

A Terra existiu sem nós
Por quatro e meio bilhões de anos
Estreando nesse palco
E nos sentindo sós
Prazer, somos humanos

Nossa história é o ponto final
De mil páginas do livro da vida
Ignorando esse fato
Sentindo-se a tal
Nossa espécie se sente a preferida

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Viajante

Quero ver uma estrela cadente
Quero ver a aurora boreal
Contemplar, do oceano, o poente
Atracar no porto, Portugal

Quero ver o mundo, ver a gente
Viver uma história surreal
Quando o mundo acabar, ir em frente
Rumar ao espaço sideral

Cair no buraco de minhoca
Subir a espiral da genética
Em uma nave, numa engenhoca

A existência é mais que poética
Centelha onde tudo desemboca
Realidade louca e frenética

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Nostalgia

Uma casa cheia
Uma gente boa
Mora em minha ideia
Pensamento voa
Corre em minha veia
Rio de saudade
Choro uma garoa
Sofro tempestade
Pela minha dor
Pela dor alheia

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Preconceito

Pensamento obtuso
Covarde, confuso
Já fez o bastante
Agora se ausente

Pensamento atrasado
Você é o culpado
De tudo de errado
Na vida da gente

Marginalizados
Se sentem culpados
Por serem quem são

Falácias antigas
De gente vazia
Que arrota moral
E traz depressão

Seja você mesmo
Não aceite as histórias
De recriminação

Isso não existe
Foi tudo inventado
Com o dedo em riste
Determinado
Conteste, diga não

sábado, 12 de abril de 2014

Verão

Em noite quente, andar na praia
A brisa traz uma vontade de amar
A pele ardente, a tua saia
Ela beija serena, ela faz panejar

Estrela cadente, do céu não caia
Se o meu desejo não puder realizar
Que a paixão aguente, não se esvaia
Quando o verão abruptamente passar

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Adeus

Para Bebel

Não  estou pronto para o adeus amiga
Esta palavra triste não digo, não diga
Espero logo poder te ver de novo
Ouvir seu sorriso, ensinar-lhe uma cantiga

Se o tempo a separação nos obriga
É ele também que nossas vidas liga
Meu carinho por você sempre será novo
Por mais que a lembrança fique antiga

terça-feira, 8 de abril de 2014

H2O

Enfeita, ó deusa, com tuas vítreas contas,
toda esta paisagem
Caída do céu,
qual multidão de profecias benditas
Mãe de toda criatura,
é o ritmo da vida que ditas
Translúcida jóia,
empreendes pelo mundo alucinante viagem

Os olhos sedentos do empoeirado beduíno
te veem na miragem
Poesia suprema,
o farfalhar de tuas ondas, ao poente recita
Rica flora, linda fauna
teus infindáveis leitos habita
Tu, que dos antigos cometas
que visitaram a Terra, vieste na bagagem

Abraça-me querida, e me faz esquecer
por enquanto a tristeza da vida
Enreda-me em teu rodamoinho
e leva-me embora
Deixa em minha boca
o austero gosto de teu sal

Em meu corpo, em minhas células,
em meu pensamento estás contida
Lave-me do medo, nutra-me de amor,
envolva-me senhora
És a fonte sagrada do bem,
és do universo o elemento principal

domingo, 6 de abril de 2014

Incompleto

Nascida da poeira das estrelas devastadas
De partículas que cruzaram distância infinita
Com a eternidade ao seu dispor pra serem combinadas
A vida floresceu, aterradora e bonita

Sobreviveu graças à própria carne devorada
Tomou o planeta e nem só a ele está restrita
Mais uma vez revolucionou e forjou do nada
A consciência, que nos faz uma espécie esquisita

Levei bilhões de anos pra escrever este poema
E ainda assim receio que ele não vai ficar pronto
Sinto-me incompleto, sinto-me fora deste esquema

É que a vida que se uniria à minha nesse ponto
Extraviou-se, ou mudou de assunto, ou mudou de tema
E eu fiquei só, e fiquei mudo, e eu fiquei tonto

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Estio

Quando mais quero, cadê saliva?
Se fica seca, a boca emudece
Empoeirada, a alma enrijece
Só a lembrança está em carne viva

Já não há mais alternativa
À natureza minha sina obedece
Se a alegria este solo não umedece
A semente do ser jaz cativa

Apagada e ressequida a sempre-viva
De morte recorrente a eternidade tece
A luz do dia mais bonito enegrece
Aos olhos de criatura tão inexpressiva

domingo, 30 de março de 2014

Tempos modernos

Que sensação soturna é essa?
Um desconforto subliminar
O sangue gela, o sono cessa
É difícil se concentrar
Em meio ao caos, com tanta pressa
Não conseguir finalizar
Nada realmente interessa
Não assistir TV, zapear
Qualquer coisa logo estressa
Não ver a paisagem, fotografar
Sem sentido, sem descanço, outro dia começa
Não conversar com o amigo, postar
Viver prometendo e esperando uma promessa
Mas realmente não realizar

É uma sensação vazia, uma dormência
Pressão por todo lado, uma cobrança
Corrupção , injustiça, falência
Uma total falta de confiança
O Mercado nos ofende a inteligência
A religião não traz mais esperança
A política é o retrato da ausência
O esquecimento somatizado na lembrança
O sofrimento arraigado na vivência
Na tormenta, nenhum vento de mudança
Tudo isso intensifica a experiência
Corta, cala, quebra, cansa
Sensação soturna de demência
Que a humanidade inexoravelmente alcança

sexta-feira, 21 de março de 2014

Criatividade

Luz radiante dos sonhos dourados
Tens a beleza profunda da vida
Em tua história está resumida
Toda a glória dos tempos passados

És comandante de muitos soldados
Numa batalha que pra ser vencida
Tem de ser justa e ser compreendida
Como tarefa de predestinados

Segue indomada esta fera possante
A cavalgar pela mente brilhante
Mozart, Walt Disney e Einstein e mais

Gênios que acendem a chama ofuscante
Cora e aquece este vil figurante
Vence a tristeza que no meu ser jaz

quarta-feira, 19 de março de 2014

Paixão

Eu quero mordiscar-lhe o seio
E festejar-lhe a boca
Soltar de vez o freio
Dessa vontade oca
Desembestar o coração

E afagar-lhe a coxa
E deixar você zonza
Uma mordida roxa
Eu tigre, você onça
E apertar sua mão

E repousarmos serenos
Fronteiras inexistentes
E nós juntos seremos
Dois seres iridescentes
Em plena comunhão

terça-feira, 18 de março de 2014

Pausa

Já não escrevo como antes
A força de acontecimentos gigantes
Fez-me esquecer o que devo

Levou-me as palavras da mão
Num mundo de pura ilusão
Meu inquilino poeta dorme

Sonha secretos sons sibilantes
Seus sentidos sempre vigilantes
Despertam para inéditos vocábulos

Perecerá sob o toner e o grafite
A saudade apertada sem limite
Dos regressos versos triunfantes

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Ciclo

As palavras silenciar
Abafar todas notas
Interditar as rotas
Rarefazer o ar
E a inevitável quebra
Que a finitude lembra
A se aproximar

Bem no ponto final
Retornar ao início
À beira do precipício
A espera é letal
E a inevitável queda
Que o temor hospeda
É fundamental

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Pouca coisa

De tão pouca coisa me ocupo
Também nessas coisas fracasso
Me odeio, me firo, me culpo
Sucumbo ao imenso cansaço
Que rouba a beleza do dia
Põe sombra onde a luz vigorava
Compõe uma triste poesia
Arrasta-me, prende, me trava

De tão pouca coisa me orgulho
Pra tantos também não é nada
Na mediocridade mergulho
E fico com a alma afogada
Não quero deixar descendência
Legar sofrimento profundo
Melhor é agir com decência
Viver a despeito do mundo

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Caixa forte

Fortemente protegido
Pelas trancas de papel
Nada entre terra e céu
Me pega desprevenido

Portas de algodão tecido
Numa trama intransponível
Me fazem inalcançável
Em plena praça escondido

Me protege um Deus de vento
Estou certo cem por cento
Que de tudo estou no centro
Minha dúbia convicção

É...

Por minha conta somente
Do infinito, inconsciente
Vagueio solenemente
Escorado na ilusão

Santa probabilidade
Que não seja eu o tal
Vitimado pelo mal
Ou pela fatalidade

Em minha fragilidade
Me protege um animal
E sou grato ao meu igual
Pela solidariedade

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Discreto

Não adianta rasgar o verbo
Nem entrar de sola
O coração que chora
Tem de ser discreto

Tem de furar concreto
E que pedir esmola
Por que mentir não cola
É que vou ser sincero

Eu acho que te amo demais
Mas não vou forçar a barra
Não vou ganhar na marra
Sua atenção
Vou chegar de mansinho
Pegar sua mão
Olhar nos seus olhos
E te mostrar quem sou
Transparecer o amor
E te deixar em paz
Pra sentir o mesmo ou não

Se a recíproca for verdadeira
Não espere sentada
Que a hora atrasada
Pode ser a derradeira

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Três reinos

O Alberto trouxe o asbesto e quatro quartzo
O feldspato a mica e o betume
Pra eu fazer um talismã
E me livrar pela manhã do teu ciúme

Mandei buscar o boldo e a carqueja
Erva-cidreira, doce ou o que seja
Pra eu fazer unguento ou chá
E amansar seu coração quando me beija

Vou apelar para a natureza
Para ter certeza que você me ama
Vou rebentar as ondas do mar em nossa cama
Vou soprar o vento da manhã na tua face
E desbastar o seu disfarce
Vou carregar a luz do Sol no bolso
Pra quando o tempo fechar
O que mais quero é te fazer feliz
Não tem por que duvidar

O caboclo trouxe um melro e um uirapuru
Um pintassilgo, um loro e um urubu
Pra eu botar numa gaiola
E te cantar como é que chora o meu amor

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Cria

NA           CRISE         CRIATIVA
NA    CRISE   ,      CRIA    ATIVA
CRIA      NA       CRISE     ATIVA
CRIA      NATIVA      DA    CRISE
CRUZA     A     CURA   CONTIDA
NA  DURA    PUREZA   DA  VIDA
DA    NUA    E    CRUA   FERIDA
NASCE  UMA  FLOR  COLORIDA

Esmaecendo

Ao amigo Waldo, que optou por não prosseguir.

Chega de palavras melancólicas
Dou um basta para tudo
Este ser carrancudo que vagueia
Por insólitos vocábulos
Caiu na teia da depressão
Entrego-me resignado
À fria mão que me tateia
E não vou mais adiante
Desculpem-me aqueles
A quem tocou minha tristeza
Desculpe mãe natureza
Esta criatura insignificante
E sua ilusão de grandeza
Mas que louco!
A natureza não tem consciência
E nem sentido algum
Além da sobrevivência
Para ela sou mais um
A carregar genes egoístas
Mas não deixarei descendência
Nem pistas
Vou sumindo pouco a pouco

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Presa

Não há alegria na selva
Escondida no meio da relva
A morte está de tocaia
A cena que agora é bucólica
Logo será melancólica
Cotidiana tragédia se ensaia

Linda manada no pasto
Por um terreno tão vasto
A calma não dura um instante
Pois quem mata a fome alheia
Com sangue de sua própria veia
Está em perigo constante

As barras da cadeia alimentaar
Prendem sem nem se importar
Uma espécie inteira
Pobre da presa abatida
Condenada a vagar pela vida
Sempre da dor companheira

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Predador

Espreita e fareja
Silencioso e sombrio
Não importa onde esteja
Ele já viu
A pobre indefesa
Refeição e sobremesa

Corre e salta
Com força total
A proteína faz falta
Se no final
De sua caçada
Não pegar nada

Arranha e morde
A defunta carcaça
Vive de morte
Mas não é de graça
Dedica-se à empresa
Operário da natureza

Cansaço

Meu dia a dia
É uma total falta de ideia
Tropeça morno em minha veia
O sangue azul da covardia
Minha nobre miséria

E a minha melodia
Quem diria? Está velha
Minha risada está mais séria
Tudo aquilo que eu sabia
Não é mais nada que valha

Minha alma está mais fria
Onde a indiferença se espalha
Mais e mais o meu ser falha
Em ser aquilo que eu queria
Já sou feito de migalhas

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

HD

Te amo em alta definição
Te lembro com mil megapixels
Toda graça e os encantos seus
Encantam e alegram meu coração

O cabo HDMI da emoção
Levará meu canto em som surround
Ao seu ouvido, não importa aonde
Você esteja nesta imensidão

Sintonize o canal do sentimento
Coloque seus óculos 3D
E verá o que mora lá dentro

Deste poeta que ama você
Nosso filme terá prosseguimento
Mesmo que desliguem a TV

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Amanhece

Súbito, ao longe no céu apagado
Irrompe, pois, um clarão fulgurante
Antes tímido, depois triunfante
Vestido de rubro e de alaranjado

Do breu intenso se vê resultado
Em nada mais ou menos que um instante
Lindo cenário de luz ofuscante
A promessa de um dia abençoado

Assim como o BIG BANG e a evolução
Assim como nascer ou um sorriso
O amanhecer traz sim renovação

Pois muito pouco é tudo que é preciso
Hidrogênio, hélio, amor, união
Pra vencer o nada que interiorizo